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quinta-feira, março 27, 2008

Gianna Beretta Molla (4)

A DESCOBERTA DA VOCAÇÃO MATRIMONIAL


Para Joana Beretta a descoberta da vocação ao matrimónio não foi imediatamente clara, mas sim fruto de um não fácil discernimento, bastante longo, que poderíamos explicitar em cinco passos.

- O primeiro passo, fundamental, foi a sua decisão de viver toda a vida como vocação.

- O segundo passo, que podemos chamar profissional, foi a descoberta de uma profissão – ser médica – como vocação.

- O quarto é o passo da escolha madura, quando compreende que o seu ideal é o matrimónio como vocação.

- Finalmente, o quinto é a realização deste ideal, através da preparação do noivado e do matrimónio.

1. O passo fundamental, através do qual compreendemos que a vida é vocação, chamamento de Deus, resposta à Sua vontade, todos devemos entendê-lo.

Em Joana foi instilada, desde a infância, por parte dos pais, a convicção de que a vida de cada um comporta um chamamento de Deus. A sua família vivia uma fé profunda e acreditava que a vida é um dom e uma tarefa.

Mas há uma data certa que marca esta convicção, a dos Exercícios Espirituais já recordados, que realizou nos dias 16/17/18 de Março de 1938. Joana regista no seu diário: «Jesus, faz-me conhecer somente a tua vontade». Joana tinha descoberto que o sentido da vida é fazer a vontade de Deus.

E às raparigas da Acção Católica, que instruía com paixão, costumava repetir: «A nossa felicidade terrena e eterna depende do seguir bem a nossa vocação».

2. Vejamos, agora, a sua descoberta da profissão como vocação. No fim do Liceu, Joana compreende que a vocação se concretiza, nela, no serviço profissional como médica.

Eis algumas palavras do irmão sacerdote, que vivia em Bergamo: «A escolha da profissão de médico, para a Joana não foi apenas um seguir o exemplo dos outros dois irmãos, ambos encaminhados para esta profissão, mas sim uma escolha motivada. Ela considerava esta profissão como a que mais lhe dava a possibilidade de ir ao encontro do próximo sofredor e doente [...]. As palavras de Jesus, "A mim o fizeste", deram-lhe tanta força e constância no enfrentar o longo estágio daquela faculdade, com todos os seus numerosos exames. Também este estudo era vivido por ela como uma vocação, ao ponto que chegou a escrever que não conseguia entender como pudessem existir médicos que exerciam esta profissão movidos apenas pelo desejo de ganhar dinheiro. E dizia, também: "O sacerdote toca com as mãos Jesus na Eucaristia. Nós, médicos, tocamos Jesus nos membros dos irmãos doentes que nos pedem ajuda "».

Joana via na arte da medicina a sua vocação. Escrevia ela num caderno:

Que diria Jesus? Deveis pôr todo o cuidado para com o corpo. Tendo Deus enxertado o divino no humano, eis que tudo aquilo que realizamos, assume um valor maior.

Infelizmente, hoje há muita superficialidade também na nossa profissão. Nós tratamos os corpos, mas muitas vezes, sem competência.

1) Fazer bem a nossa parte. Estuda bem a tua ciência. Há, hoje em dia, uma corrida para o dinheiro.

2) Sejamos honestos! Ser médicos de fé.

3) Ter um cuidado carinhoso pensando que são nossos irmãos. Ter delicadeza.

4) Não esquecer a alma do doente. Portanto, para nós que temos direito a certas confianças, cuidado com a profanação da alma seria uma traição. Cuidado com as palavras deitadas lá com superficialidade...

Fazer o bem: nós temos oportunidades que o sacerdote não tem. A nossa missão não acaba quando os medicamentos já não servem; há ainda a alma que deve ser levada a Deus e a vossa palavra teria autoridade. Cada médico deve entregá-lo ao sacerdote. Estes médicos católicos, como são necessários!

3. Daqui, então, o terceiro passo: aparece em Joana o ideal missionário. Movida pelo exemplo do irmão padre Alberto, missionário e médico no Brasil, acredita firmemente que é chamada à missão, nomeadamente no Brasil. Começa, logo, a estudar a língua portuguesa, alcança a especialidade em pediatria e, também, obstetrícia. Mas a sua saúde não teria aguentado o clima da América Latina, e é, portanto, dissuadida a não partir. O Bispo de Bérgamo disse-lhe que, a seu ver, a fragilidade física era sinal de falta de vocação missionária. Joana ficou muito perturbada com estas palavras do Bispo e continuava a rezar pedindo luz ao Senhor.

A luz chegou pelas palavras do seu director espiritual: «Acho que a missão não seja o teu caminho. Porque não pensas em formar uma tua família, uma família verdadeiramente cristã?». Joana sente que lhe é pedida uma renúncia e põe o seu sacrifício aos pés da Cruz, pedindo ao Senhor ajuda para realizar só aquilo que Ele quer e de encontrar a sua verdadeira vocação.

4. Finalmente, tudo fica progressivamente mais claro e a vocação de Joana ganha mais clareza no ideal do matrimónio. O encontro com quem será o seu esposo dá-lhe a certeza de estar no caminho certo e inicia a percorrê-lo como uma vocação santa. Escrevia a Pedro Molla: «Quero formar contigo uma família verdadeira e profundamente cristã, como o é aquela em que cresci». E ainda: «Desejo que a nossa família seja um verdadeiro cenáculo onde Cristo reine e se sinta em casa para guiar e conduzir cada nosso passo, para iluminar cada nossa decisão e cada nossa acção».

5. O último passo consiste na preparação para formar uma família conforme o Evangelho. Podemos intuir a intensa experiência do noivado, através das numerosas cartas que Joana escreveu ao noivo. Cartas que nos fazem perceber o seu amor transbordante de afecto, de alegria, de entusiasmo e de fé. São páginas onde aparece o maravilhoso ideal do matrimónio cristão, onde «o amor é total, pleno, completo, regulado pela lei de Deus e que deve eternizar-se no Céu».

Poucas semanas antes do casamento escreve ao noivo: «Meu Pedro, faltam poucos dias e sinto-me comovida ao receber o Sacramento do Amor. Tornamo-nos colaboradores de Deus na criação, podemos dar-lhe filhos que O amem e que O sirvam».

Por isso propõe ao noivo um tríduo de oração, a santa Missa e a comunhão, como preparação para receber este sacramento: Pedro o fez em Ponte Novo de Magenta, Joana no santuário da Assunção. Talvez consigamos compreender melhor o valor do empenho da Igreja que quer ajudar os jovens a fazer do tempo do noivado um verdadeiro tempo de crescimento e de graça.

Lembrando o início da vida matrimonial, assim escreveu, muitos anos mais tarde, Pedro Molla: «A partir daquela manhã, iniciou para nós a plenitude da nova vida: um correr de dias, de alegrias inefáveis e de serenidade luminosa, de trepidações e de sofrimentos, até àquela manhã de Sábado que te viu subir ao Céu».

Podemos concluir este tema da vida esponsal em Joana com uma frase «profética» por ela pronunciada, alguns anos antes da doença que a levou à morte: «Há muitas dificuldades, mas com a ajuda de Deus, devemos caminhar sem medo. Porque, se na luta para a nossa vocação deveremos morrer, aquele seria o dia mais bonito da nossa vida».

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