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quinta-feira, março 27, 2008

Gianna Beretta Molla (4)

A DESCOBERTA DA VOCAÇÃO MATRIMONIAL


Para Joana Beretta a descoberta da vocação ao matrimónio não foi imediatamente clara, mas sim fruto de um não fácil discernimento, bastante longo, que poderíamos explicitar em cinco passos.

- O primeiro passo, fundamental, foi a sua decisão de viver toda a vida como vocação.

- O segundo passo, que podemos chamar profissional, foi a descoberta de uma profissão – ser médica – como vocação.

- O quarto é o passo da escolha madura, quando compreende que o seu ideal é o matrimónio como vocação.

- Finalmente, o quinto é a realização deste ideal, através da preparação do noivado e do matrimónio.

1. O passo fundamental, através do qual compreendemos que a vida é vocação, chamamento de Deus, resposta à Sua vontade, todos devemos entendê-lo.

Em Joana foi instilada, desde a infância, por parte dos pais, a convicção de que a vida de cada um comporta um chamamento de Deus. A sua família vivia uma fé profunda e acreditava que a vida é um dom e uma tarefa.

Mas há uma data certa que marca esta convicção, a dos Exercícios Espirituais já recordados, que realizou nos dias 16/17/18 de Março de 1938. Joana regista no seu diário: «Jesus, faz-me conhecer somente a tua vontade». Joana tinha descoberto que o sentido da vida é fazer a vontade de Deus.

E às raparigas da Acção Católica, que instruía com paixão, costumava repetir: «A nossa felicidade terrena e eterna depende do seguir bem a nossa vocação».

2. Vejamos, agora, a sua descoberta da profissão como vocação. No fim do Liceu, Joana compreende que a vocação se concretiza, nela, no serviço profissional como médica.

Eis algumas palavras do irmão sacerdote, que vivia em Bergamo: «A escolha da profissão de médico, para a Joana não foi apenas um seguir o exemplo dos outros dois irmãos, ambos encaminhados para esta profissão, mas sim uma escolha motivada. Ela considerava esta profissão como a que mais lhe dava a possibilidade de ir ao encontro do próximo sofredor e doente [...]. As palavras de Jesus, "A mim o fizeste", deram-lhe tanta força e constância no enfrentar o longo estágio daquela faculdade, com todos os seus numerosos exames. Também este estudo era vivido por ela como uma vocação, ao ponto que chegou a escrever que não conseguia entender como pudessem existir médicos que exerciam esta profissão movidos apenas pelo desejo de ganhar dinheiro. E dizia, também: "O sacerdote toca com as mãos Jesus na Eucaristia. Nós, médicos, tocamos Jesus nos membros dos irmãos doentes que nos pedem ajuda "».

Joana via na arte da medicina a sua vocação. Escrevia ela num caderno:

Que diria Jesus? Deveis pôr todo o cuidado para com o corpo. Tendo Deus enxertado o divino no humano, eis que tudo aquilo que realizamos, assume um valor maior.

Infelizmente, hoje há muita superficialidade também na nossa profissão. Nós tratamos os corpos, mas muitas vezes, sem competência.

1) Fazer bem a nossa parte. Estuda bem a tua ciência. Há, hoje em dia, uma corrida para o dinheiro.

2) Sejamos honestos! Ser médicos de fé.

3) Ter um cuidado carinhoso pensando que são nossos irmãos. Ter delicadeza.

4) Não esquecer a alma do doente. Portanto, para nós que temos direito a certas confianças, cuidado com a profanação da alma seria uma traição. Cuidado com as palavras deitadas lá com superficialidade...

Fazer o bem: nós temos oportunidades que o sacerdote não tem. A nossa missão não acaba quando os medicamentos já não servem; há ainda a alma que deve ser levada a Deus e a vossa palavra teria autoridade. Cada médico deve entregá-lo ao sacerdote. Estes médicos católicos, como são necessários!

3. Daqui, então, o terceiro passo: aparece em Joana o ideal missionário. Movida pelo exemplo do irmão padre Alberto, missionário e médico no Brasil, acredita firmemente que é chamada à missão, nomeadamente no Brasil. Começa, logo, a estudar a língua portuguesa, alcança a especialidade em pediatria e, também, obstetrícia. Mas a sua saúde não teria aguentado o clima da América Latina, e é, portanto, dissuadida a não partir. O Bispo de Bérgamo disse-lhe que, a seu ver, a fragilidade física era sinal de falta de vocação missionária. Joana ficou muito perturbada com estas palavras do Bispo e continuava a rezar pedindo luz ao Senhor.

A luz chegou pelas palavras do seu director espiritual: «Acho que a missão não seja o teu caminho. Porque não pensas em formar uma tua família, uma família verdadeiramente cristã?». Joana sente que lhe é pedida uma renúncia e põe o seu sacrifício aos pés da Cruz, pedindo ao Senhor ajuda para realizar só aquilo que Ele quer e de encontrar a sua verdadeira vocação.

4. Finalmente, tudo fica progressivamente mais claro e a vocação de Joana ganha mais clareza no ideal do matrimónio. O encontro com quem será o seu esposo dá-lhe a certeza de estar no caminho certo e inicia a percorrê-lo como uma vocação santa. Escrevia a Pedro Molla: «Quero formar contigo uma família verdadeira e profundamente cristã, como o é aquela em que cresci». E ainda: «Desejo que a nossa família seja um verdadeiro cenáculo onde Cristo reine e se sinta em casa para guiar e conduzir cada nosso passo, para iluminar cada nossa decisão e cada nossa acção».

5. O último passo consiste na preparação para formar uma família conforme o Evangelho. Podemos intuir a intensa experiência do noivado, através das numerosas cartas que Joana escreveu ao noivo. Cartas que nos fazem perceber o seu amor transbordante de afecto, de alegria, de entusiasmo e de fé. São páginas onde aparece o maravilhoso ideal do matrimónio cristão, onde «o amor é total, pleno, completo, regulado pela lei de Deus e que deve eternizar-se no Céu».

Poucas semanas antes do casamento escreve ao noivo: «Meu Pedro, faltam poucos dias e sinto-me comovida ao receber o Sacramento do Amor. Tornamo-nos colaboradores de Deus na criação, podemos dar-lhe filhos que O amem e que O sirvam».

Por isso propõe ao noivo um tríduo de oração, a santa Missa e a comunhão, como preparação para receber este sacramento: Pedro o fez em Ponte Novo de Magenta, Joana no santuário da Assunção. Talvez consigamos compreender melhor o valor do empenho da Igreja que quer ajudar os jovens a fazer do tempo do noivado um verdadeiro tempo de crescimento e de graça.

Lembrando o início da vida matrimonial, assim escreveu, muitos anos mais tarde, Pedro Molla: «A partir daquela manhã, iniciou para nós a plenitude da nova vida: um correr de dias, de alegrias inefáveis e de serenidade luminosa, de trepidações e de sofrimentos, até àquela manhã de Sábado que te viu subir ao Céu».

Podemos concluir este tema da vida esponsal em Joana com uma frase «profética» por ela pronunciada, alguns anos antes da doença que a levou à morte: «Há muitas dificuldades, mas com a ajuda de Deus, devemos caminhar sem medo. Porque, se na luta para a nossa vocação deveremos morrer, aquele seria o dia mais bonito da nossa vida».

terça-feira, março 25, 2008

Gianna Beretta Molla (3)

EXPERIÊNCIA DO NAMORO


As cartas de Joana, que era apresentada como uma jovem calada e reflexiva, manifestavam o seu entusiasmo e a sua alegria por ter descoberto aquela vocação de que, muitas vezes, tinha falado às suas jovens. Dizia numa conferência do dia 21 de Outubro de 1946: «Ser chamados à vida familiar, não significa iniciar a namorar com 14 anos de idade… Tens que te preparar, já agora, à vida familiar. Não se pode enveredar este caminho se não se sabe amar. Amar significa desejo de aperfeiçoar-se a si mesmo, de aperfeiçoar a pessoa amada, superar o egoísmo, dar-se».

Este programa apresentado às jovens não era apenas fruto da sua reflexão. Joana procurava vivê-lo desde a sua adolescência. A preparação tinha começado em família, lá onde os pais lhe tinham transmitido a alegria de viver, o amor à pobreza e à vida singela, a aceitação da vontade de Deus.

Ao ingressar na Acção Católica, assimilou o espírito de colaboração com a hierarquia e, sobretudo, convenceu-se da possibilidade que o laicado tem, de oferecer um contributo específico, uma presença e um testemunho particular, no mundo, que muitas vezes é impossibilitada ao sacerdote.


Nos meados dos anos cinquenta, o percurso de Joana estava ultimado. Dela escreveu Pedro: «Foi um período maravilhoso, Joana e eu andávamos exuberantes de alegria. Há algumas fotografias onde a plenitude de alegria de Joana aparece, posso dizer, gravada. Como, por exemplo, a foto tirada no verão de 1955 na neve do Lívrio em Bórmio. Era uma alegria sentida, pura, autêntica».

O amor de Joana e de Pedro mostra como o matrimónio cristão nunca exclui a paixão e o enamoramento, a atracção e a vontade de doação total, mas a fidelidade do dom recíproco é abertura para a transcendência, testemunhada pela «boa nova de que Deus nos ama de um amor infinito e irrevocável, que os esposos participam desse amor, que Ele os conduz e sustenta».


Joana amava muito, também, a natureza e o desporto, e procurava transmitir esta paixão a Pedro. Assim escrevia no dia 23 de Março: «Depois do pequeno-almoço, partimos logo com os nossos esquis e… logo para baixo nas pistas. Costumo, por volta das 11h, ter algumas aulas de esqui e… modestamente, aprendi a enfrentar descidas difíceis… Contudo, é maravilhoso! Quando estamos no alto, com um céu limpo, a neve branquíssima, é grande o gozo e o sentimento de louvor a Deus. Pedro, tu sabes bem, como me sinto feliz, pelo contacto com a natureza tão bela, ao ponto que ficaria horas a fio em contemplação».

Nesta óptica, o namorado é companheiro de viagem, aquele que recolhe toda a confiança. Escrevia Joana ao seu namorado: «Pedro, pudesse ser para ti, a mulher forte da Sagrada Escritura. Mas, na verdade, sinto-me frágil. Terei que me apoiar ao teu forte braço. Sinto-me tão segura ao teu lado!». A conclusão do percurso do noivado, o conceito que diz mais quem foi Joana, é o da harmonia, que significa acordo entre o mundo do corpo e o do espírito, entre o mundo do homem e o de Deus.

«Lettera di Gianna a Pietro»

4 settembre 1955

sabato sera


Carissimo Pietro,

ti aspettavo e già ero in pensiero temendo ti fosse accaduto qualcosa, ma la tua telefonata mi ha tranquillizzata.

Pietro mio, tu sai che gioia è per me vederti e poter stare in tua compagnia e quando motivi più che giusti alle volte non lo permettono, anche se la ragione dice «è giusto, è opportuno fare così», il cuore… protesta e così, questa sera, per far passare il così detto magone, ti scrivo.

Pietro carissimo, vorrei tu mi sentissi tanto vicina in questi giorni, perché non puoi immaginare quello che provo nel saperti in viaggio e così lontano. Dirai che esagero, ma è proprio così. Sei il mio Pietro, mi sento ormai un’anima e un cuore solo con te.

Sei buono, caro, mi vuoi tanto bene e anch'io te ne voglio tanto tanto, le tue gioie sono anche le mie e così pure tutto ciò che ti preoccupa e addolora, preoccupa e addolora anche me.

Quando penso al nostro grande amore reciproco, non faccio che ringraziare il Signore. È proprio vero che l'Amore è il sentimento più bello che il Signore ha posto nell'animo degli uomini. E noi ci vorremo sempre bene, come ora, Pietro. Mancano solo venti giorni e poi sono... Gianna Molla! Che diresti se, per prepararci spiritualmente a ricevere questo sacramento, facessimo un triduo? Nei giorni 21, 22 e 23 S. Messa e S. Comunione, tu a Ponte Nuovo, io nel santuario dell' Assunta. La Madona unirà le nostre preghiere, desideri e, poiche l’unione fa la forza , Gesù non può non ascoltarci e aiutarci.

Sono certa che dirai di sì e ti ringrazio.

Se ti fa piacere pensa che il prossimo viaggio ti sono proprio vicina e ti dirò a voce tante e tante volte, fino a stancarti, che sei tutta la mia vita.

Grazie mille, Pietro, per la magnifica casetta che mi hai preparato. Più bella di così non potevo desiderarla. Ora tocca a me ricompensarti col renderla sempre dolce ed accogliente.

Buon viaggio, Pietro carissimo e non... perdere il treno domenica prossima!

Bacioni grossi grossi, tua

Gianna

«Intervento di Pietro Molla»

Lei parla spesso di lettere di sua moglie. Ci può dire qualcosa di più?

Certamente. Una delle «reliquie» più toccanti che conservo di mia moglie sono appunto le lettere del periodo di fidanzamento. Ne conservo altre del periodo del matrimonio, che parlano spesso, però, dei figli e della vita matrimoniale. Invece le lettere in cui Gianna ha espresso il suo concetto del matrimonio, la visione che lei aveva della preparazione al matrimonio, il modo in cui lei si preparò al sacramento dell'amore, la gioia che lei provava di fronte a questo evento e alla vita tutta, sono quelle del fidanzamento. Ma il discorso si amplia. Da queste lettere risulta anche la sua gioia per la bellezza e l'incanto del creato cui corrispondeva, da parte sua, un atteggiamento di gratitudine e di ringraziamento al Creatore. Ella esortava anche me a questi sentimenti. Mi scriveva: «Pietro, potessi essere per te la donna forte del Vangelo! Invece mi trovo e mi sento debole... Ho tanta fiducia nel Signore e sono certa che Lui mi aiuterà ad esser la tua degna sposa».

I motivi ricorrenti erano la fiducia nel Signore e l'invito alla preghiera.

terça-feira, março 18, 2008

Gianna Beretta Molla (2)

APOSTOLADO DE JOANA

As primeiras notícias do seu apostolado aparecem quando Joana tinha quinze anos e se inscreveu na Acção Católica de uma pequena paróquia de Génova-Quinto.

Joana viveu o apostolado inspirada pelo lema da AC daqueles anos: oração, acção, sacrifício (em italiano PAS – preghiera, azione, sacrificio).


Mas qual foi o segredo, por assim dizer, de tanta actividade apostólica? É ela mesma que o diz numa palestra às associadas da AC, em 1954: «Primeiro dever da AC é a oração, a vida de piedade vivida intensamente». E realçava, muitas vezes, as diferentes maneiras de orar: «Mesmo quando fores para o trabalho, nunca deixeis a meditação». E acrescentava: «A visita o SS.mo Sacramento, se for possível, a Comunhão pelo menos semanal... Só se formos ricos de graça poderemos espalhá-la à nossa volta, porque quem não tem, nada pode dar».


Este segredo, muito simples, da vida interior, da vida espiritual e da oração como raiz da vida apostólica, tem como momento inicial o seu primeiro retiro espiritual aos 16 anos, em 1938. Poucos meses depois do retiro, Joana iniciou com entusiasmo, o caminho apostólico na Acção Católica, onde descobriu a primeira vontade do Senhor. Desenvolvia todas as responsabilidades – como a presidência da Juventude Feminina – com simplicidade, grande alegria, entusiasmo e fervor.

O segredo do seu apostolado era, portanto, a oração e o enlevo inicial do seu empenho apostólico foi um retiro espiritual.

Porém, como vivia o exercício quotidiano do apostolado?

Para além da oração, Joana recomendava o exemplo da vida: «O homem que sempre precisa ver, tocar, sentir, não se deixa conquistar facilmente com uma simples palavra. Não basta falar bem, é preciso mostrar o exemplo. É preciso ser testemunhas vivas da grandeza e beleza do cristianismo. Tornar visível na nossa pessoa, a verdade; torná-la afável oferecendo-nos, a nós mesmos como exemplo significativo e, se possível, heróico».

Por isso, acrescentava: «Será necessário sacrificar um pouco da nossa tranquilidade, renunciar às nossas preferências, aceitar recusas, expôr-se aos insucessos e à ingratidão… estamos prontos a tudo e agradecemos-te, Senhor, por nos teres escolhido para esta nobre missão que é o apostolado».


«Conferenza di Gianna alle Giovani di Azione Cattolica, 28 ottobre 1946»

PORTEREMO OVUNQUE LA GIOIA, IL PROFUMO DI CRISTO

Quando l'anima è in grazia di Dio, ella diviene una sola cosa con Dio - tempio di Dio. «Chi mi ama, in lui verremo, abiteremo in lui, faremo la nostra dimora in lui». Non abitazione di passaggio, ma una dimora stabile e Cristo rimane finché non lo cacceremo col peccato.

Quando facciamo la s. comunione, finché durano le specie (Pane e Vino) noi siamo così fisicamente congiunti con Gesù Cristo che possiamo dire con s. Paolo: «Non sono più io che vivo ma è Cristo che vive in me».

Gesù, cessate le specie, scompare fisicamente, ma rimane in noi misticamente per tutta la giornata. Il nostro cuore è quindi il cenacolo vivente, è l'ostensorio traverso il cui cristallo il mondo dovrebbe vedere Cristo. Ragazze, se noi fossimo veramente persuase di ciò, come ci comporteremmo meglio durante la giornata! Il pensiero che ci deve accompagnare in questa settimana è: Per essere apostola, per appartenere cioè all'AzioneCattolica l'anima mia deve essere sempre in grazia, deve essere cioè il tempio, il tabernacolo vivente, devo avere in me la vita divina per poterla comunicare alle anime che mi circondano. Pensiamo spesso, che con la Grazia, con Gesù nel cuore, noi siamo « Alter Cristus» - Eviteremo certamente di commettere peccati non solo, ma porteremo ovunque la gioia, il profumo di Cristo.

terça-feira, março 11, 2008

Gianna Beretta Molla (1)

A FAMÍLIA PRIMEIRA ESCOLA DE VIDA CRISTÃ

A história de Gianna inicia no dia 4 de Outubro de 1922 em Magenta. É nesta vila a meio caminho entre Milão e Novara, na casa dos avós paternos, que nasce Giovanna Francesca (Joana Francisca), com este nome será baptizada sete dias mais tarde. É a décima dos filhos de Alberto Beretta e Maria De Micheli, aos quais seguirão mais três.

A família mora até ao ano de 1925 em Milão, onde o pai Alberto trabalha num escritório. Em 1937, acabam por transferir-se para a cidade de Bergamo.

Cada percurso de vida cristã é diferente dos outros, e muitos são os santos que encontraram o Senhor já adultos ou fora da sua família de origem. A santidade de Joana, no entanto, nasce e germina na época escolar, como dirá ela própria, dos seus «santos pais, tão rectos e sábios, daquela sabedoria que é reflexo da sua alma cheia de bondade, lealdade e de temor de Deus».

Os pais participavam todos os dias à Missa e quotidianamente comungavam: o pai Alberto de manhãzinha, antes de ir para o trabalho, a mãe Maria, depois de ter acordado e preparado os seus filhos que, muitas vezes, a acompanhavam e participavam com ela à celebração.

No fim do dia, nunca faltava a recitação do Rosário.

A vitalidade e a solidez da fé dos pais de Joana não se reduziam apenas a uma vida de oração, vivida com constância e convicção. Ingressaram, também, na Ordem Franciscana Secular e frequentavam o convento dos Frades Capuchinhos da Avenida Monforte em Milão.

Neste lugar, Alberto e Maria Beretta aprendem a radicalidade evangélica, a sobriedade de vida, o amor pelas Missões, a atenção aos pobres. Esta última dimensão, aparece muitas vezes nos testemunhos dos irmãos de Joana: «Quando crescemos em idade, ao Domingo à tarde, o pai levava-nos consigo a visitar as famílias pobres da paróquia, levando-lhes embrulhos com géneros alimentícios e vestuário. Na nossa família (...), entre as várias vozes do balanço da casa, nunca faltou a da caridade para com os pobres».


A Joana, portanto, vive a sua infância na cidade de Bergamo, onde recebe pela primeira vez a Eucaristia, no dia 4 de Abril de 1928. A partir daquele dia, a Missa e a Comunhão serão para ela um encontro diário, numa vida de oração que é, desde já, muito exigente. Daí a pouco, no dia 19 de Junho de 1930, recebe o sacramento do Crisma.


Joana aparece, por um lado, como uma jovem extraordinariamente orientada para Deus, por outro lado, como uma pessoa absolutamente normal, que vive as normais condições da existência humana.

A situação que, talvez mais do que outras, mostra a “normalidade” da Joana, nestes anos, é a sua dificuldade nos estudos. Nas aulas não se apresenta como uma aluna excelente, nem no que tem a ver com o comportamento, e não tem vergonha de reconhecer que, por vezes, copia os trabalhos dos colegas; não faltam resultados pouco brilhantes, como quando, no liceu, é reenviada ao segundo turno de provas (mês de Setembro) a italiano e a latim (estamos em 1936), ou tem que recorrer a explicações de matemática para não piorar a situação.

Em 1937, quando Joana tem quinze anos, a família desloca-se para Quinto ao mar, perto de Génova; onde ficará seis anos.

Um momento importante deste período é constituído por um curso de Exercícios Espirituais, a que Joana participa de 16 a 18 de Março de 1938. Para muitos biógrafos, estes dias constituem um verdadeiro "salto" na sua vida espiritual: o Pe. António Rimoldi, por exemplo, define esta passagem como a da sua "conversão".

A seguir os Exercícios Espirituais, a vida de fé e de oração de Joana experimenta uma aceleração: a participação diária à Missa enriquece-se com o uso de um pequeno Missal e a Confissão, sempre com o mesmo sacerdote, inicia a ter uma frequência semanal.

Em 1942, morrem a mãe Maria e, depois de poucos meses, o pai Alberto. Joana, com a sua irmã Virgínia, fica em Génova até ao verão para concluir o Liceu. Depois dos exames finais regressam em Magenta, a casa na Rua Roma 91, onde Joana tinha nascido há vinte anos.


Os anos dramáticos da guerra e os anos da reconstrução, cada vez mais difíceis mas também ricos de estímulos, , são vividos, por um lado nos estudos universitários na Faculdade de Medicina, e por outro lado no empenho eclesial, sobretudo na Acção Católica e nas Conferências de São Vicente.

Joana inscreve-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Milão no Outono de 1942.

Numa carta à madre canossiana Mariana Meregalli não esconde as dificuldades nos estudos, mas encontram-se, também, uma indicação da “jornada tipo” de Joana, nestes anos: "Agora digo-lhe clara e sinceramente o que faço e peço-lhe que me acredite. Às 6h30 acordar – estudo um pouco e, depois, às 7h30 Santa Missa – às 9h00 retomo o estudo até ao meio-dia – depois vou descansar (sesta) – às 15h00 recomeço até às 19h00 – 19h30 jantar – às 21h00 rosário – às 22h00 vou para a cama – quando não estou cansada, vou à igreja para estar um pouco em adoração".

Destas linhas emerge a seriedade com que Joana enfrenta o seu dever de estudante universitária, apesar da sua crónica dificuldade em ficar concentrada nos livros. Nos seus apontamentos, é clara a sua convicção do valor de uma rigorosa e séria preparação científica para um futuro de médica.

Todavia o empenho no estudo não parece ser a principal preocupação de Joana. O irmão Henrique testemunha como era fortíssimo nela «o ideal de fazer o bem aos outros», dedicando «todo o tempo livre… na Acção Católica».

Parece ouvir, no testemunho do irmão, as lamentações que muitos pais dirigem aos seus filhos quando dedicam mais tempo às actividades da paróquia ou ao voluntariado, do que ao estudo.

Os anos, que vão de 1943 a 1949 (anos em que faz o doutoramento em Medicina), são incrivelmente empenhados na Acção Católica, que descobriu em Génova, onde foi delegada das Pequenitas nos anos de 1940 a '41. Em Magenta será delegada das Benjaminas em 1944-45, das Aspirantes no ano sucessivo, Presidente da Juventude Feminina da AC de 1946 a 1949 e de 195252 a 1955, delegada das Jovenzinhas de 1951 a 195252, e, também, delegada de zona.

Joana vive estes encargos associativos com grande paixão, desenvolvendo uma extraordinária actividade como educadora cristã das jovens a ela confiadas. Orienta encontros e palestras em Magenta e nas vilas dos arredores, organiza jornadas de retiro, propõe às “suas” raparigas iniciativas de diverção e de convívio. Até mesmo, nos anos difíceis da guerra leva grupos de jovens para jornadas de estudo na sua casa de Viggiona à beira do Lago Maggiore (Maior).

No centro de toda a sua acção educativa está a contínua insistência numa séria vida de oração. Nas anotações para uma conferência às "Gieffine" (Jovens Femininas) de Magenta é possível encontrar uma espécie de programa de vida espiritual que propõe às raparigas e que ela mesma procura viver:

1) Orações de manhã e à noite, rezadas bem, não na cama, mas e joelhos e bem recolhida.

2) Santa Missa: prática insubstituível, inapagável.

3) Possivemente Santa Comunhão. Máxima liberdade. Deve recebê-la quem se sente? Quem sabe o que significa.

4) Meditação: pelo menos dez minutos.

5) Visita ao SS. Sacramento.

6) Santo Rosário: sem a ajuda da Nossa Senhora, não chegamos ao Paraíso.

Juntamente à militância e responsabilidade educativa na AC, Joana une um forte empenho caritativo nas Conferências de São Vicente, que ela mesma “cria” a Magenta em 1943.

Organiza numerosas iniciativas para recolher dinheiro para destinar aos pobres, visita todos os sábados à tarde as famílias mais necessitadas, levando-lhes pão, arroz, senhas para comprar comprar e outras ofertas. Quando eram necessários tratamentos médicos, como por exemplo injecções, ia sozinha, até todos os dias, a cuidar daquelas que chamava as "suas amigas".

Joana, portanto, é como costumamos dizer hoje, uma “jovem empenhada”; mas dentro desta extraordinária riqueza de actividades, continua a alimentar as suas paixões humanas e uma grande alegria de viver. Cresce no gosto pela arte, pinta, toca piano, e sobretudo cultiva um grande amor pela montanha: numerosas são as fotografias que a representam, feliz, nas pistas de esqui ou diante das alturas durante as excursões.

segunda-feira, março 03, 2008

Gianna Beretta Molla

Cronologia



4 de Outubro de 1922: nasce a Magenta, na casa paterna em Rua Roma 91.

11 de Outubro de 1922: é baptizada com o nome de Joana Francisca, na paróquia de São Martinho de Magenta.

1922-1925: mora em Milão, na Praça Risorgimento n. 10.

1925: a família transfere-se para Bérgamo, em Burgo Canal

4 de Abril de 1928: recebe a Primeira Comunhão em Bérgamo, na paróquia de Santa Grata.

1928-1933: inicia a escola básica: frequenta a primeira e a segunda classes em Colle Aperto, a terceira na escola das Irmãs da Sagesse, a quarta e a quinta classes no Instituo das Canossianas da Rua Suborno.

9 de Junho de 1930: recebe o Crisma na Sé de Bérgamo.

Outubro de 1933: inicia o secundário no Liceu Clássico Estatal "Paulo Sarpi" de Bérgamo.

22 de Janeiro de 1937: morre Amátia, a irmã mais velha, de 26 anos.

1937: a família transfere-se para Quinto al Mare, perto de Génova-Nervi: frequenta o quinto ano do secundário no Instituto de Santa Doroteia.

16-18 de Março de 1938: participa nos Exercícios Espirituais na casa das Irmãs de Santa Doroteia.

Outubro de 1938: suspende os estudos um ano por causa do seu estado de saúde.

Outubro de 1939: inicia o liceu clássico, no Instituto de Santa Doroteia do Lido de Albaro.

29 de Abril de 1942: morre a mãe, Maria De Micheli, com a idade de 55 anos.

Junho de 1942: consegue a maturidade clássica

10 de Setembro de 1942: morre o pai, Alberto Beretta, com 60 anos de idade.

Setembro de 1942: volta a viver a Magenta, na casa natal, juntamente com os seus irmãos e as suas irmãs.

Outubro de 1942: inscreve-se na Faculdade de Medicina e Cirurgia da Universidade de Milão.

Em 1943: funda em Magenta a Associação de São Vicente.

De 1944 a 1955: é responsável pelos diferentes ramos da Juventude Feminina da Acção Católica.

30 de Novembro de 1949: licencia-se em Medicina e Cirurgia.

1 de Julho de 1950: abre um consultório médico a Mésero.

7 de Julho de 1952: consegue a especialização em Pediatria

8 de Dezembro de 1954: encontra, pela primeira vez de maneira significativa, Pedro Molla.

11 de Abril de 1955: oficializa o noivado.

24 de Setembro de 1955: celebra o matrimónio com Pedro Molla na Basílica de Magenta; os esposos vão viver para Ponte Nuovo de Magenta, na vivenda reservada ao Director dos Estabelecimentos Saffa.

19 de Novembro de 1956: nasce o primeiro filho, Pedro Luís.

11 de Dezembro de 1957: nasce Maria Zita, chamada Mariolina.

15 de Julho de 1959: nasce Laura.

6 de Setembro de 1961: sofreu uma intervenção cirúrgica para a redução de um fibroma no hospital de Monza.

20 de Abril de 1962: na sexta-feira santa é internada no hospital de Monza.

21 de Abril de 1962: nasce Gianna Emanuela; desenvolve-se uma septicemia post partum.

28 de Abril de 1962: morre na sua casa de Ponte Nuovo.

30 de Abril de 1962: solenes exéquias em Ponte Nuovo; é sepultada a Mesero, na capela dos párocos.

Em 1965: o corpo é trasladado para a capela da família no cemitério de Mesero.

28 de Abril de 1980: o cardeal Carlo Maria Martini decreta o início da Causa de Beatificação.

24 de Abril de 1994: João Paulo II proclama bem-aventurada Gianna Beretta Molla.

16 de Maio de 2004: João Paulo II proclama "santa" Gianna Beretta Molla, mãe de família.